“Compartilhar notícias falsas é uma irresponsabilidade” comenta a professora Gabriela Cauzzo
- unipressunifaccamp
- 1 de dez. de 2018
- 5 min de leitura
Em conversa com o UniPress, a professora esclarece as principais dúvidas sobre Fake News
O termo ‘Fake News’ se tornou mundialmente conhecido, principalmente após as eleições americanas de 2016, nas quais foram identificados diversos sites com conteúdos duvidosos, principalmente sobre a candidata Hillary Clinton. No Brasil, o mesmo aconteceu nestas eleições presidenciais. Com a popularização dos computadores e celulares smartphones, grande parte da população brasileira passou a ter acesso a redes sociais, como Facebook, Whatsapp e Twitter, que se tornaram ferramenta de difusão de notícias falsas disparadas todo momento.
Além de receber, muitas pessoas acabam também compartilhando notícias falsas através de memes, fotos, vídeos e textos falsos, com amigos, familiares e até mesmo em grupos de pessoas desconhecidas. Segundo um dos maiores estudos já produzidos sobre o tema, publicado em 2018 na revista Science, uma notícia falsa tem 70% mais chance de ser compartilhada do que uma notícia verdadeira. Mas, por que isso acontece?
Em entrevista, a e professora de Jornalismo Digital no Centro Universitário Unifaccamp, Gabriela Cauzzo , esclarece algumas das principais dúvidas sobre Fake News.

1. Qual é o maior propagador de Fake News?
Antes eu achava que era o Facebook, mas hoje o Whatsapp... todo mundo abre o que recebe ali, então não sei se o Whatsapp passou o Facebook ou os dois estão par a par. Mas na minha opinião, o Whatapp hoje tem virado uma arma. Tanto que você compra pacotes para disparos, então quando é proposital é pior ainda, por que a pessoa não só dispara, como também compra para fazer esses disparos em massa e aí para nós que trabalhamos com Assessoria de Imprensa, por exemplo, é uma loucura. Então eu acho que o Whatsapp, pelo menos na área que eu atuo, é o que tem dado mais trabalho nesses casos.
2. As Fake News já existiam antes da popularização da internet?
Olha, eu não vou saber te responder com propriedade, mas eu, particularmente, não tinha acesso. Por exemplo, você não via Fake News na TV, na rádio, nos jornais.... Depois, quando veio a Era digital, a democracia imperou mais ainda, por que todo mundo tem voz e propaga o que quer. Eu comecei a ter acesso à internet quando eu tinha uns 14 anos que era bem novidade e acho que de forma mais gritante, com certeza, foi com a internet. Tanto que até hoje, se pararmos para pensar, as pessoas estão mais ligadas com as Fake News. Acho que foi feita uma campanha muito forte de cheque, de apurar, então, claro que a grande massa ainda vai no embalo do que recebe, mas já tem, hoje, os mais críticos que recebem uma notícia e vão procurar um meio de comunicação oficial para validar aquilo. Então eu acho que foi na Era Digital que isso começou.
3. Para você, quais são as alternativas para combatê-las?
Dentro do mercado que eu atuo (Assessoria de Imprensa), sempre deixamos as ferramentas de comunicação atualizadas. Com o público que costumamos trabalhar, sempre tentamos nos manter presente, porque, recebeu uma notícia, esse público vai sempre procurar nosso canal e temos que ter uma resposta rápida para já sanar o problema, responder e tentar amenizar o estrago. Então eu acho que hoje a melhor maneira é “se faça presente”, o público tem que receber as notícias pelo seu canal, assim, na hora que receber alguma coisa estranha, ele vai te procurar, e se você for ativo e responder, pode sanar o problema.
4. Então não é nem combater, é curar.
É, acho que combater é só aquela coisa que, agora foi feita nas últimas eleições, que foi uma campanha de checar as informações. Mas também foi uma onda, né, era legal falar não ao Fake News, enquanto, nos bastidores, muitos produziam Fake News. Então o ideal é que as pessoas sejam críticas.
Como combater o Fake News? A educação para mim é a base de tudo. Então quando incentivamos o pensar, a pessoa vai ter condição de olha para uma notícia e perceber a veracidade. Então, a maneira de combater seria com a educação, mas isso seria a longo prazo. A curto prazo, quem precisa de comunicação, mantenham seus meios ativos.
5. Você acha que as pessoas estão preparadas para identificar o que é falso?
Eu acho que a grande maioria não, porque elas gostam do barulho, da confusão. Acho que é uma cultura nossa. Você viu quantas tragédias já aconteceram por causa das redes sociais, que saía a foto de uma pessoa e no final era um equívoco, mas a pessoa acabava sendo linchada, pessoas acabaram sendo mortas. Então eu acho que culturalmente, nós não somos um povo curioso, que tem a disposição de checagem, então eu acho isso um pouco complicado, mas é aquilo, sempre o estímulo tem que vir com os pequeninhos, para que eles pensem. Acho que isso é a base para corrigir uma série de coisas.
6. Quais são suas dicas para a identificação de notícias falsas?
Eu respeito muito veículos oficiais. Não importa se a pessoa que soltou a notícia seja de confiança. Se aquilo for notícia relevante, algum veículo vai dar atenção para aquilo. Como jornalista, eu tenho um respeito enorme pelos veículos. Então eu sempre recomendo checar nesses veículos oficiais antes de passar a notícia para a frente. Minha recomendação é sempre “credibilidade”, seja dentro de um veículo ou uma pessoa. Se você ouviu de que você nem conhece, como você vai passar isso para a frente?
7. Qual é o principal motivo da criação de notícias falsas?
Depende muito do ambiente que você vive. Dentro do ambiente profissional que eu vivo, o maior intuito é desmoralizar alguém para que o seu serviço ou figura pública seja exaltada de alguma maneira. Não é explícito, mas vai desgastando imagens. Hoje eu acho que o Fake News vem para desgastar imagens. Existem casos de pessoas que geram Fake News para gerar números dentro de páginas para vender anúncio. Mas de forma geral eu acho que é mais utilizado para desmoralizar o outro.
8. Qual deve ser o papel do jornalista neste assunto?
Para o jornalista, a verdade tem que ser o nosso dilema. As redes sociais nos obrigam a trabalhar de uma forma bem rápida, mas não podemos abrir mão do nosso processo de checagem. E a respeito de quem vai receber as Fake News, é o alerta. Sempre temos que orientar, dentro do que cada um acredita. Eu sempre vou estimulando as pessoas a pensarem que sempre tem alguém se beneficiando daquilo, tanto de notícias verdadeiras quanto de falsas, então eu sempre trato trazer a consciência paras as pessoas que ao propagar essas notícias, elas estão sendo usadas. Se é uma notícia real que você checou, pode passar, mas se não, não passe, você vai estar sendo usado. Eu como jornalista tenho sempre muita dedicação em tudo. Desde o meu primeiro dia de sala de aula eu entendi que temos essa responsabilidade de vida. A informação para mim tem um peso imensurável, então quando eu vejo alguém compartilhando notícias falsas acho uma irresponsabilidade sem tamanho.
Tem um caso até hoje que me marca até hoje, de uma mulher que morreu por causa de uma Fake News. Todas as pessoas que passaram essa notícia são culpadas pela morte dessa mulher. O fato de passar as notícias sem checar é uma responsabilidade, não é bobagem. Não tem certeza, não passe. Isso também vale para o processo jornalístico, se não tem certeza, não publique.
Texto: Isabela de Mattos Mllan 26995
Comments